Saramago, o cronista da memória e do esquecimento

Um escorpiano humanista, mas crítico da condição humana

Saramago subverteu a lógica do cotidiano. Seu humanismo não se baseava na fé em um deus ou em um ideal abstrato, mas na capacidade dos seres humanos de construir um mundo mais justo e ético, apesar de todas as agruras da existência.
Saramago, o cronista da memória e do esquecimento

A astrologia costuma despertar paixões antagônicas. De um lado, os que a utilizam e a defendem como uma ferramenta de orientação e autoconhecimento, do outro, os que a criticam implacavelmente e a veem como uma crendice ou, pior ainda, como um embuste para explorar a ingenuidade dos incautos. 

Curioso é que às vezes nos surpreendemos ao descobrir que pessoas que jamais poderíamos imaginar se ocuparam do assunto, mesmo que brevemente. É o caso de José Saramago, que ganhou o Prêmio Nobel pelo conjunto de sua obra e nos presenteou com livros monumentais, como Ensaio sobre a Cegueira, transposta para o cinema por Fernando Meirelles, mas que também escreveu um poema cujo título é Signo de Escorpião. 

Isso mesmo, José Saramago, um escritor que, pelo que sabemos, provavelmente tinha uma visão crítica dos chamados fenômenos esotéricos. Ele teria dito em certa ocasião que a astrologia é o “último refúgio do romantismo”, mas, pelo que consta, foi em tom irônico, Claro que não podemos afirmar que seu interesse pela astrologia tenha excedido a exploração poética do tema. Não há elementos para isso. 

E a julgar por esta declaração dada à Revista Playboy em 1995, ele não acreditava num destino pré-determinado, inescapável, algo em que também não acreditamos e que não invalida a premissa astrológica: Estava à espera de que as pedras do puzzle do destino — supondo-se que haja destino, não creio que haja — se organizassem. É preciso que cada um de nós ponha a sua própria pedra "

O que podemos afirmar é que, em algum momento, o escritor português, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, ateu, cético, crítico, com aquele semblante grave, que afirmava que o pessimismo era uma reação à realidade do mundo, se interessou pelo tema e escreveu. 

Signo de Escorpião
Para ti, saberás, não há descanso,
A paz não é contigo nem fortuna:
O signo assim ordena.
Pagam-te os astros bem por essa guerra:
Por mais curta que a vida for contada,
Não a terás pequena.


Podemos supor que Saramago tenha sido motivado a escrever um poema sobre Escorpião porque nasceu em 16 de novembro, ou seja, porque era deste signo, mas o que torna o fato ainda mais interessante é que ele também tinha Mercúrio, o planeta do intelecto e da comunicação, e Júpiter, planeta da fé e das convicções, nesse signo, levantando a suspeita que talvez conhecesse seu mapa.



E ele tinha Mercúrio e Júpiter na casa 8, em trígono com o ascendente Peixes, que recebe um trígono de Plutão e está em conjunção com Urano, configuração compatível com alguém hipersensível, dotado de muita empatia, com ideais até utópicos, mas denso, crítico, profundo, o que é compatível com sua filiação ao Partido Comunista.

Alguns sites de astrologia publicaram matérias nas quais fazem associações e traçam paralelos entre os signos e os temas recorrentes implícitos em sua obra, como a crítica às estruturas dogmáticas, a condição humana, a solidão e a necessidade de empatia. Mas o que nos parece refletir com mais clareza a configuração de seu mapa são suas frases, típicas de um escorpiano com ascendente em Peixes.: 

A única maneira de liquidar o dragão é cortar-lhe a cabeça, aparar-lhe as unhas não serve de nada.

Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia.

A nossa maior tragédia é não saber o que fazer com a vida.

É necessário sair da ilha para ver a ilha, não nos vemos se não saímos de nós.

Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia mais.

Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.

O difícil não é viver com as pessoas, o difícil é compreendê-las.

No fundo, o problema não é um Deus que não existe, mas a religião que o proclama. Denuncio as religiões, todas as religiões, por nocivas à Humanidade. São palavras duras, mas há que dizê-las.

Nunca esperei nada da vida, por isso tenho tudo.



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