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A pesquisa de Michel Gauquelin

A pesquisa astrológica que até hoje causa controvérsia

Para a comunidade acadêmica, sua pesquisa provou que a astrologia não se sustentava do ponto de vista da ciência. Já para muitos astrólogos, a pesquisa comprovou a validade do fenômeno astrológico.

Em 1955, o psicólogo e estatístico francês Michel Gauquelin publicou o primeiro relatório da pesquisa que lhe fora encomendada pelo Observatório de Paris, cujo objetivo era provar que a astrologia era uma falácia e não tinha base científica. Os resultados apresentados causaram e continuam causando muita controvérsia. Para a comunidade acadêmica, a pesquisa provou que a astrologia não se sustentava do ponto de vista da ciência. Já para muitos astrólogos, a pesquisa comprovou a validade do fenômeno astrológico.

Gauquelin havia demonstrado interesse pelo assunto desde criança e, quando estudou estatística na Sorbonne, percebeu que as pesquisas anteriores apresentavam erros de metodologia que invalidavam os resultados obtidos. Então, ele executou seu trabalho observando fatores demográficos, astronômicos e sociais que pudessem influenciar os resultados. Com a ajuda da esposa, ele tabulou dados de 15 mil mapas de profissionais de destaque em suas áreas e mais 12 mil mapas de profissionais que não haviam atingido o sucesso na carreira, nascidos entre 1794 a 1945. Ele os dividiu em 10 categorias, Para se ter uma ideia da dimensão e da dificuldade de tal empreitada, basta lembrar que todo o trabalho foi feito manualmente, já que eles não podiam contar com os programas  disponíveis hoje em dia.

O trabalho prosseguiu até 1980 e ele coordenou várias outras pesquisas, mas aqueles resultados continuaram provocando muitas dúvidas. Além disso, apesar de, em linhas gerais, ter se posicionado de forma a negar que a pesquisa tivesse fornecido qualquer indicação da validade da astrologia, o próprio Gauquelin contribuiu para a polêmica fazendo comentários ambíguos quando divulgou alguns relatórios : 

"Se bem que tenhamos obtido fatos positivos a partir de um material de aparência astrológica na origem, é evidente que esses resultados,  por mais espantosos que sejamdevem-se explicar em termos científicos e não em termos astrológicos. Melhor: eles são uma nova e poderosa crítica dessa superstição”

“Nenhum dos números diferiu de modo significativo dos esperados pelo acaso. É um desapontamento para a teoria astrológica. Não vi nada que pudesse confirmar o papel atribuído pela astrologia a uma casa particular. Mas, por outro lado, nas posições estatísticas de três planetas, vi anomalias significativas". 

Os planetas a que ele se referiu eram Marte, Júpiter e Saturno. Analisando os mapas, ele notou anomalias estatísticas, padrões que se repetiam de forma tão constante que seria improvável, ou impossível, que fossem ação do acaso. O primeiro padrão foi percebido no mapa de militares e esportistas. O planeta Marte, associado à coragem, à disputa e ao conflito, aparecia repetidamente próximo ao ascendente, ao meio-do-céu, á casa 4 ou á casa 7 no mapa de pessoas deste grupo profissional. Previsivelmente, o padrão foi chamado de Efeito Marte.

Dando sequência à pesquisa, Gauquelin constatou que o mesmo padrão se repetia para outros planetas nos mapas de pessoas de  outros grupos profissionais. Tais planetas apareciam em números altamente significativos do ponto de vista estatístico nos mapas das pessoas do grupo profissional que lhes é associado pela tradição astrológica:

  • Marte em posição dominante no mapa indica temperamento explosivo, espírito competitivo, coragem e ousadia, característico de militares e esportistas.
  • Júpiter em posição dominante no mapa indica temperamento expansivo, confiante e grandiloquente, característico de políticos e atores.
  • Saturno em posição dominante no mapa indica temperamento reflexivo e detalhista, característico de filósofos e cientistas.

Ele também tentou encontrar algum padrão para Sol, Vênus e Mercúrio, mas os números encontrados não foram estatisticamente significativos. De qualquer forma, os resultados foram surpreendentemente significativos e, claro, não agradaram a comunidade acadêmica, mesmo porque Gauquelin havia sido contratado para provar justamente o contrário. Então, ele fez uma revisão em todos os dados e levantou a seguinte hipótese: se Marte é relacionado pelos astrólogos a um temperamento combativo e aparecia repetidamente em destaque no mapa de militares e esportistas, o oposto disso, ou seja, a Lua, associada a um temperamento intimista e introspectivo, deveria aparecer de forma marcante em números estatísticos baixíssimos nos mapas dessas pessoas. O resultado obtido confirmou tal hipótese. Ponto para a astrologia.

Ocorre que esses padrões só foram significativos em mapas de pessoas que haviam se destacado em seu trabalho e não foram constatados nos mapas de profissionais sem grandes feitos na carreira. A pergunta era inevitável: por que isso acontecia e o que isso significava? Podemos formular uma resposta possível: as pessoas que se destacam, lutam para viver de acordo com a própria natureza e manifestam mais nitidamente o temperamento e os atributos fundamentais indicados pelo mapa. Já as pessoas que não se destacam, tiveram os atributos indicados pelo mapa anulados pela pressão social ou outros fatores.

A pesquisa confirmou ou desmentiu a astrologia?

O trabalho sofreu retificações e avaliações críticas, mas nunca foi integralmente refutado, embora os padrões encontrados por Gauquelin não tenham sido observados em pesquisas posteriores. Apesar disso, para os astrólogos, a pesquisa  não condenou a astrologia e, pelo menos, concedeu-lhe o benefício da dúvida. Para os acadêmicos, a pesquisa desacreditou definitivamente a astrologia. E o ceticismo tem crescido nos meios científicos nas últimos décadas. Em 1976, 186 cientistas assinaram o manifesto Objeções à Astrologia. Curiosamente, Carl Sagan, frequentemente citado pelos céticos que propagam um racionalismo que excluiria o que chamam de crendices, se recusou a assinar o documento, não por acreditar na validade da astrologia, mas porque não concordava com o tom autoritário do manifesto.

Realmente, a pesquisa de Gauquelin não concedeu à astrologia o status de ciência, e é provável que isso jamais aconteça, o que não é um demérito. Talvez a astrologia tenha de ser abordada e analisada por outros métodos e parâmetros. Só assim, poderemos entender melhor essa disciplina que há milênios fascina os seres humanos. Afinal, o mapa é uma combinação complexa e dinâmica e a interpretação isolada de um aspecto sempre pode levar a conclusões enviesadas. Além disso, o mapa não indica exatamente o que é, mas o que poderia ser. Aí entra a questão muito discutida do destino X arbítrio, mas isso é assunto para outro texto.



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